
passado, presente, futuro
innerdance é uma palavra escolhida para definir um fenômeno antigo, comum e conhecido por muita gente. A "dança interior" fala de uma dimensão de consciência pré-discursiva, o espaço desde onde tudo o que existe é criado. Ali, nada existe, pois tudo pode ser materializado, dependendo do que se escolhe viver, trazer à superfície.
Há quase 20 anos, começamos a denominar esta dimensão como innerdance, palavra composta, capaz de conter a natureza fluida e introspectiva dessa dimensão. Existem outros nomes, outras palavras que também buscam materializar a natureza da vida e definir-la. Por que então escolher ver através desta lente?
De origem filipina, innerdance começou a se mostrar pra gente através do corpo de uma pessoa pequena, pi villaraza, que, em meio ao seu processo de peregrinação, escutou que deveria estar em uma ilha, sozinho e em mono-dieta de coco por tempo indeterminado. Durante seus 2 anos de isolamento, ele viveu seu processo de expansão de consciência.
Sua história representa a história de muitos outros corpos que vêm escutando a mesma mensagem há tempos: já é hora de soltar as amarras e perceber-se enquanto criador e criação da nossa realidade.
A natureza e simplicidade nos ajudam a recordar a abundância de luz que existe dentro de cada corpo. A solidão nos ensina que jamais estamos sós.
Vivemos em uma época de muita rapidez. Época em que testemunhamos diariamente a exaustão de recursos naturais e de recursos internos. Nossa geração é a que vive na interseção entre um sistema de consumo, que cria sujeitos fragmentados e competitivos e um novo sistema, algo fundamentado na conservação, na totalidade e na colaboração.
innerdance tem tudo a nos mostrar sobre quais possibilidades temos de repensar nossa história e de sonhar um mundo novo, onde sejamos capazes de cuidar da gente e da Terra.
como você vive a experiência determina o que ela é e como ela fala contigo
como innerdance pode ser vivida?
innerdance se expressa de muitas formas. Uma das mais comuns e vividas no cenário atual é a forma "sessão" ou "retiro"/ "imersão". Todavia, vale ressaltar a beleza desse trabalho: a de mostrar pra gente outra forma de ver a vida. Algo que não seja mais tão linear e fragmentado.
No formato sessão, você vai experimentar estar deitado por cerca de 1h, escutando a uma playlist que, no meu caso, é canalizada ao vivo (eu sempre trabalho desta forma para atender as subjetividades presentes no espaço com maior fluidez). Essa playlist é criada desde um espaço de escuta profunda, compartilhado por mim (facilitadora) e todos os outros corpos presentes.
Estruturalmente, ela segue dois tipos de mapas:
- o mapa das etapas do sono: ou seja, com a música, combinamos diferentes sons que espelham as oscilações de frequências/oscilações neuronais pelas quais o corpo-mente passa toda noite ao dormir;
- o mapa das 12 etapas: aqui, seguimos a narrativa do herói e de como ele se transforma.
As escolhas sonoras, combinadas de maneiras específicas (e artísticas) operam nos mecanismos de vigília e de sono do corpo, desativando os mecanismos do cérebro pensante (no começo da experiência) e despertando mecanismos autônomos do corpo.
Importante perceber como esse processo se assemelha com o que cada um de nós passa durante uma noite de sono. E é por isso, e por outros detalhes, que essa dimensão de consciência é chamada de [REM desperto]. Ela nos leva a um estado de profunda observação do corpo e sua força de Sonhar, de Regenerar, e de Criar.
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Essa dimensão, que a níveis anatômicos fala de uma coativação entre nosso sistema de luta e de descanso - ou seja, estamos despertos e relaxados ao mesmo tempo - é a mesma que experimentamos, portanto, durante:
- sono REM
- durante o parto / no nascimento
- nas experiências de quase morte / de revisão de vida
- em experiências de estados alterados de consciência (com plantas medicinais, ou outros).
Duas grandes diferenças? Estamos sempre conscientes e capazes de escutar, sentir e observar tudo. Além disso, neste processo, não ingerimos nada, apenas desfrutamos do poder do SOM aliado à sabedoria do nosso corpo.
E é por isso que te digo com toda propriedade: essa dimensão pode ser vivida de muitas maneiras.


sobre a gra
Brasileira do Sul do país, nasci em uma cidade tríplice fronteira, lugar de interseções entre culturas e mundos distintos. Lugar também guiado pela força da água e presença do espírito da Mata Atlântica e de todos os povos que ali com ela já viveram. Foz do Iguaçu, meu berço.
Minha história também é aquela de quem decidiu abrir-se pra transformação. Aos 26 anos, depois de viver a vida planejada que tinha para mim, o desconhecido me chamou. Viajei para a Europa e logo depois, para a Ásia.
Minha trajetória não é a mais comum dentro da espiritualidade. Não fiz cursos com gurus, ou escolas conhecidas. Estudei caminhando pelo mundo - às vezes descalço mesmo. Estudei sentindo o cheiro diferente de cada lugar, observando as diversas tonalidades do verde em cada região. Estudei interagindo com culturas distintas, aprendendo a ouvir a natureza por detrás de cada pedra, de cada sorriso.
Quando finalmente ouvi a palavra "innerdance", ali em 2019, já era conhecida da não-linearidade, do fluxo, do escutar o próprio corpo. O terceiro capítulo da minha vida começou. Durante um retiro em Maia Earth (Palawan, Filipinas), meu corpo falou e se mexeu por conta própria. A floresta me chamou e me mostrou, em imagens vívidas, quem eu era de verdade. Tive que, antes de tudo, aprender a aceitar a mudança. E ainda vou aprendendo, ela ensina de diversas maneiras.
Nessa época, recuperei memórias de abusos, aprendi com meu corpo o que é o Tempo e como ele se desdobra dentro da mente humana. Estudei na universidade que existe dentro do meu universo: analisando símbolos, padrões e fenômenos pelos quais passei. Um dos pontos marcantes durante meu processo foi a reprogramação linguística, que veio através da afasia de fala - por cerca de 3 meses. Mergulhar na pré-cognição, o espaço que existe antes da gente construir quem é, mudou muito de como eu era.
Encontrei, ali, a força que não sabia que tinha, a inteligência que nunca tinha percebido Ser e a voz que nunca permiti escutar.
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Desde 2019, vivo então em Maia Earth, considerada por muitos o berço de innerdance, mas pra mim, minha segunda casa. Já são 6 anos de experiência, de estudo e de aplicabilidade desse trabalho de escutar a Grande Mãe, de aprender com ela a Ser e acolher a Diversidade.
Minha vida em Maia nunca foi entediante. Participando dos treinamentos/retiros innerdance e da organização dos projetos sociais que a comunidade innerdance daqui promove, aprendi e venho aprendendo o que significa "enraizar esse trabalho".
Devolver para a Terra, para a nossa Sociedade, para as Instituições. Esse é meu próximo capítulo.
Sou professora, linguista e analista de discurso por formação e de coração também. Apaixonada pelo Saber, aprendendo a Ser. Meu trabalho em Maia é também o de desenvolver innerdance como um projeto educacional e de coordenar as atividades da nossa Escola da Terra em conjunto com nossa equipe multicultural, junto com a comunidade local e, mais do que tudo, para a comunidade global.
Não acredito em números e nem em certificados para qualificar o trabalho que a gente faz. Acredito, sim, na importância da humildade para aprender a viver em uma comunidade tão diversa quanto a que compartilhamos: somos mais de 8 bilhões de pessoas por aqui e cada um merece lugar de fala e de escuta com respeito.